POR: CLAUDIA ANTUNES
DO RIO
DE SÃO PAULO
DO RIO
DE SÃO PAULO
O subsecretário de Estado dos EUA, William Burns, disse nesta
quinta-feira no Rio que seu governo "continua interessado" no avião
Super Tucano da Embraer, apesar do cancelamento da concorrência de US$ 355 milhões da Força Aérea americana que havia sido vencida em dezembro pela companhia brasileira.
Em visita ao Brasil para preparar a visita da presidente Dilma Rousseff a
Washington, em abril, Burns não quis entrar em detalhes das causas da
anulação da primeira licitação, oficialmente atribuída a problemas com a
documentação entregue pela Embraer. A empresa brasileira rebateu
dizendo que entregou toda a documentação solicitada.
Ele reconheceu que "às vezes abusamos da paciência" dos outros, mas
disse que espera que a disputa tenha novo desfecho o mais rápido
possível e deu a entender que o Super Tucano continua no páreo. "A
Embraer é uma grande empresa e o Super Tucano é um ótimo avião."
Ontem (29), a Força Aérea dos EUA informou que pretende agir rapidamente
para refazer licitação por aviões de combate leve de uso no Afeganistão
para garantir que orçamento para compra não expire no final de 2013.
Em um comunicado oficial, a Força Aérea declarou que, por uma medida
"corretiva", decidiu suspender o contrato com a Embraer, que entraria em
vigor no dia 2.
O subsecretário, segunda autoridade mais importante na hierarquia da
diplomacia americana, tentou desfazer qualquer relação entre esse caso e
a concorrência da Força Aérea brasileira para a compra dos novos aviões
caça, na qual o F-18, fabricado pela Boeing americana, é um dos
concorrentes, ao lado do Rafale francês e do Gripen sueco.
Disse que a oferta de transferência tecnológica feita pelos EUA no caso
de o Brasil optar pelo F-18 é "sem precedentes" e equivalente à
oferecida pelos EUA a seus parceiros da Otan (aliança militar
ocidental). "[A opção pelo F-18] pode abrir a porta para uma parceria de
longo prazo entre os dois países na área de defesa", afirmou.
FAB/Divulgação |
O Caça Super Tucano, da fabricante brasileira Embraer, projetado para ataque e treinamento; veja galeria de fotos |
PRESSÕES
Ele negou que a concorrência tenha sido anulada por razões de política
interna americana em ano eleitoral --houve pressões da fabricante
norte-americana Hawker Beechcraft, subsidiária da Lockheed Martin,
desclassificada na licitação. "Não concordo com essa interpretação."
Desclassificada da disputa em novembro, a HB fez intensa pressão
política e jurídica sobre a administração Obama e a Força Aérea para
impedir que o contrato caísse nas mãos da brasileira, parceira da também
americana Sierra Nevada.
Apelando para o sentimento patriótico em meio à crise econômica, a HB
argumenta que o contrato é fundamental para que sejam preservados 1.400
empregos em território norte-americano.
"Recebemos a notícia de que a Força Aérea vai restabelecer a Hawker
Beechcraft na disputa", disse na última terça-feira (28) a HB em um
comunicado. À Folha a assessoria da Força Aérea disse, também na terça, que a decisão de requalificar a HB "ainda está para ser determinada".
A HB criou site, página no Facebook e perfil no Twitter para convocar a
população a escrever para os congressistas a fim de pressionar a Força
Aérea a não "exportar empregos" para o Brasil.
SURPRESA
A Embraer foi pega de surpresa com o rompimento do contrato. Em nota, a
empresa lamentou a perda do contrato e disse que aguarda maiores
esclarecimentos para decidir, com a Sierra Nevada, "os próximos passos".
"A Embraer participou do referido processo de seleção disponibilizando,
sem exceção e no prazo próprio, toda a documentação requerida."
A empresa disse ainda acreditar que a decisão pelo Super Tucano "foi uma
escolha pelo melhor produto, com desempenho em ação já comprovado e
capaz de atender com maior eficiência às demandas apresentadas pelo
cliente".
O contrato estava suspenso desde o dia 4 de janeiro (cinco dias depois de ter sido anunciado oficialmente).
Mas, mesmo após a suspensão do contrato, oficiais americanos deram declarações defendendo a escolha pelo Super Tucano.
Os aviões Super Tucano seriam usados para apoiar a operação militar
americana no Afeganistão. Os EUA seriam a sétima força aérea no mundo a
utilizar o avião.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
ELOGIOS
Em discurso na antiga Bolsa de Valores do Rio, hoje transformada em
centro de convenções, Burns fez elogios ao Brasil como "potência global
emergente" e disse que o país é bem vindo no debate de todos os temas
internacionais, incluindo os conflitos no Oriente Médio, mesmo quando há
divergências entre Brasília e Washington --como nos casos da Síria, da
Líbia e do programa nuclear do Irã.
O diplomata não quis comentar diretamente o pedido feito pelo Itamaraty
para que o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, se pronuncie sobre a
legalidade das ameaças de ataque militar ao Irã. Preferiu enfatizar que
Brasil e EUA compartilham o interesse em evitar a proliferação de armas
nucleares e insistiu que o governo iraniano "tem que responder" às
dúvidas da Agência Internacional de Energia Atômica sobre o caráter
pacífico de seu programa.
"Acreditamos que Brasil e EUA, como duas democracias, têm um papel
particularmente importante para moldar a ordem internacional emergente",
disse.
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