LUCAS FERRAZ
RUBENS VALENTE
DE BRASÍLIA
MARIANA SCHREIBER
DE SÃO PAULO
COM: http://www1.folha.uol.com.br
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Para autoridades do governo federal, a Comissão da Verdade deveria
convocar para depor Silvaldo Leung Vieira, autor da imagem do jornalista
Vladimir Herzog morto numa cela do DOI-Codi, em São Paulo, em 1975.
Em reportagem publicada ontem pela Folha, Silvaldo diz ter sido
"usado" pela ditadura (1964-85) para forjar a cena de suicídio de
Herzog, que, segundo testemunhas, morreu após ser torturado.
O depoimento reforça as contestações da versão oficial feitas por historiadores, parentes e testemunhas.
A comissão, ainda não instalada, foi criada no final de 2011 pela
presidente Dilma Rousseff para apurar violações aos direitos humanos
cometidas por agentes do Estado entre 1946 e 1988.
O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, disse ser "absolutamente
natural que fatos como esse sejam investigados pela comissão". Segundo o
ministro, "a reportagem revela que há muitas coisas ainda a serem
descobertas" sobre o período militar.
Para o coordenador do projeto do governo federal Direito à Memória e à
Verdade, Gilney Amorim Viana, o depoimento de Silvaldo à Comissão da
Verdade poderá ajudar a identificar os responsáveis pela morte de Herzog
e pela montagem da cena.
Para ele, o fotógrafo é "uma testemunha independente", que "pode atestar
que aquele cenário foi montado". "Ele quebra toda a versão da
repressão", disse.
Tanto Viana como Susana Lisboa, membro da Comissão de Familiares de
Mortos e Desaparecidos pela Ditadura Militar, creem que o caso abre a
possibilidade de localizar fotógrafos que tenham registrado mortes
semelhantes.
Eles citam os casos de Roberto Cietto (1969) e de Milton Soares de Castro (1967), ambos supostos suicidas.
Silvaldo pediu em 2008 à Comissão de Anistia, ligada ao Ministério da
Justiça, indenização estimada em R$ 908 mil, entre outros pleitos.
Ele alega ter sido perseguido por sua atitude "questionadora" ao voltar a
ser recrutado para fazer fotos como aquela. Em 1979, partiu para um
autoexílio nos EUA.
Seu caso não foi julgado e, segundo Paulo Abrão, presidente da Comissão
de Anistia, não está entre as prioridades nem tem previsão de ser
analisado. "A priori, ele foi um agente que colaborou com a repressão",
afirmou.
Para Ivo Herzog, filho de Vladimir, a história deve ser investigada pela
Comissão da Verdade. "Era um fato [a identidade de Silvaldo] que
ninguém nunca tinha parado para pensar e investigar".
"Algumas pessoas ainda sustentavam a versão do suicídio. Essa versão não
tem pé nem cabeça, mas acho que a reportagem ajuda a enterrar ainda
mais", disse à Folha.
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