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segunda-feira, 16 de maio de 2011

AS SETE VOZES DO PECADO

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 A ALMA HUMANA É UMA cidade, de ruas emaranhadas quias novelos em desalinho, onde habitam vícios e virtudes. As virtudes se esquivam aqui e ali e passam silenciosas sem serem sentidas. Já os vícios são ruidosos e desejam de todo modo a atenção alheia, mesmo que para isto tenham que emprestar suas vozes á retórica capital dos pecados.

  •  VAIDADE. Sei que a roupa com que me visto atrai todos os olhares. Sou o centro de tudo e a minha volta é só admiração. Todos percebem que sou diferente e que meu olhar em contraplongée desdenha ininterruptamente do mundo.Um filme será exibido e, com certeza, será mais um recorde de bilheteria, pois eu sou a atriz principal.

  •  INVEJA. Há muitos dias, eu não durmo. Cama nenhuma me consola e o travesseiro já não tranqüiliza a minha cabeça. Infelicita-me o bem estar alheio e o sucesso de outrem é a minha ruína. Tudo que alguém conquistou , do mais alto reconhecimento ao mais simples objeto, acerta em cheio o alvo do meu desejo. Assim, sofro por não possuir o que poderia ser meu.

  •  IRA. O ódio é o sentido do pulsar do meu coração. Se tenho razão ou não, nada me importam se esta força invade meu peito e quer explodir como vulcão raivoso que expõe suas lavas pelo desejo fulminante de prazerosa imposição. Nada pode me conter se uma vingança- contra quem? - está em vias de concretizar-se. Não devo explicações.

  •  PREGUIÇA. A vida para mim é uma pesada carga. E mesmo que idealize realizar tudo ontem, o meu porvir nunca se materializa. Nenhuma obra me atrai e é exatamente o exagerado zelo em nada concluir que me dá a sensação de trabalho e de recompensa esforço de sempre adiá-lo.

  •  AVAREZA. Tenho necessidades mas não ouso jamais satisfazê-las, se tenho que empregar algum valor monetário para tanto. Por considerar a generosidade um sentimento tão desprezível é que não a desejo sequer para mim . Dizem que a minha excessiva mesquinhez torna-me escravo do que tenho. Se tenho, basta-me. Sinto-me livre.

  •  GULA. A razão se esconde em minha boca incansável e é na minha barriga empanturrada que o digiro o meu prazer. A comida sufoca o meu espírito mas me anima ao resgatar do lodoçal das minhas entranhas a minha mais gloriosa satisfação. Vivo para comer, comer,comer e comer, mesmo que para isso devore a minha própria alma.

  •  LUXÚRIA. Quando em minha alma inquieta lateja o viço, uma ardência me toma e me escraviza e, aí , abismo-me em libertinagens, como num jogo intenso de regras circunstanciais. Uma ânsia de dominar o outro e rendê-lo como se a mim próprio rendesse. Um querer mais de nunca conter-se , mesmo se desferindo um golpe fatal e irreversível contra o ser.

POR : MICA GUIMARÃES

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